sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Lembrete

Como se fosse domingo,
ela contemplou o sol e abriu o seu sorriso.
Pensava haver no mundo
um lugar escuro, tão profundo,
onde pudesse depositar o mal que lhe assolou.
Um brinde aos novos tempos,
quando os homens tocam tambores
aos deuses da guerra, fogo, vento,
pedindo paz para onde seus pés ela ficou.

Todo dia quando olho para o céu
lembro de você
e ouço o seu cantar.
A saudade é dor que sinto com urgência,
perco horas, paciência,
esperando ela passar.
Juro-te que faço malas sem sequer saber pra onde vou.
Diziam no passado que viajar liberta a alma
e sem sequer pensar,
viajo sem sair do lugar que estou.
Os raios que incidem agora em meus olhos
e o molhado que brota ao seu redor,
recorda que a beleza de viver está no dias,
no andar correndo, no tempo em que ainda chovia.
História que nenhum homem mudou.

Voltando ao imbróglio rotineiro,
sento-me na cadeira mais uma vez.
É dia de ressaca brava,
torturante lembrança de mais uma madrugada
onde me afoguei sem nem mesmo nadar.
Os goles do passado
soam agora em minha testa,
vibram feito sino em dia festa,
não me deixam pensar.

Agora passa o tempo
enquanto passo em casa
pego o casaco,
"Vai esfriar!".
Eu realmente espero que esse dia acabe logo
que minha função não seja tanta,
estou cansado de viver a esse modo,
quero minha casa e um sofá para deitar.

E quando, finalmente, amanhecer
e o tal dia do fim for esquecido,
vou me levantar com o vigor de antigamente,
daquele época onde eu era menino,
e vou correr pra casa...

Penso eu, agora, que não devia ter bebido.
Essa ressaca está realmente brava.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Y

Tenho uma série de dúvidas,
ninguém pra responder.
Todo dia de manhã eu corro para o nada
e espero que as horas me tragam a noite,
a madrugada,
pra nela eu me esconder.
Eu acordo te dizendo coisas,
daquelas que hoje você diz que nem sequer conhece.
Me preparo para o choque,
já sabendo que palavras suas doem:
- Você merece!!!

Assumo a culpa, o erro e tudo mais.
Na minha conta pendurada,
junto com as chuteiras,
fim da jornada,
estão as dores que já levei pra ti.

E quando a vida me joga água
e me acorda,
de súbito me vejo longe de tudo,
alheio ao mundo,
fugindo de mim.

Tenho esse universo preso na cachola,
um mar de sentimentos na memória,
um amor tão afastado daí.

Navego, porém, em ondas que outrora dominei.
Que hoje escapam pelos dedos,
regressam todos os medos
sem a luz do farol que eu mesmo apaguei.

Abro o peito, então,
para dizer que não, não é assim que deve ser.
Escrevo no céu se for preciso,
rabisco um quadro negro infinito
com teu nome e os dizeres que nos farão viver.

Sei que já dissestes que palavras enfraquecem
e que armas não conquistam o bem...
Mas me encontro em meio nada,
entre o precipício e o corte da espada,
só querendo nos levar além.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Não estou sóbrio

De quanto em quanto tempo você volta?
Vem brevemente me buscar
só pra dizer adeus.
Eu quero tanto quanto antes, mesmo tempo,
horas avante
e me nego a te dizer que o fim chegou.

Tremores que assolam sujam ruas com furor,
derrubando da estante tanta coisa
que já nem sei mais pra onde eu vou.
É o pó que me faz tossir
seu perfume a atacar o meu nariz.

Eu prefiro, agora,
me esquecer.
Prefiro que você toque o barco rumo à costa.
Não quero saber do seu relógio,
do cerrar dos punhos,
de respostas.
Quero deixar que seja treze vezes pior pra mim.

E atravessando fantasmagoricamente essa parede,
me despeço dos seis ou sete sentidos,
chuto o balde, viro a mesa.

Tomei mais do que uns goles, antes que eu me esqueça.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A man of simple pleasures

Quero lhe falar de minha saudade
que arde a cada passo rumo ao Norte.
Dou-me mal com meu passado
por não poder fazê-lo presente
quando só quero resgatá-lo.

Lhe digo que minha dor se dá por eu não ter a chance...
a chance de fazer o que quero,
de dividir contigo o fardo que carrego
nesse mundo onde todos me olham sem me ver.

Conto horas, faltam poucas,
40 e tantas,
não sou bom das contas...
Mas peço que me espere por mais um pouco.
Não te levo uma coroa de ouro,
mas meu amor que nunca se perdeu.

E nesse andar que por vezes achei fadado ao fim,
ouço os sulistas cantarem que ainda se recordam de mim
e minha esperança brota de chão infértil.
E mesmo com o dia um pouco longe,
minha mala se encontra pronta,
encostada na varanda,
esperando que a pegue e, então, ande.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

He talks in maths

Esse seu lugar não é mais aquele.
Me refiro a dor que sinto
enquanto abro as janelas de vidro
para que o ar entre e leve embora o que aqui jaz.
Em sua prateleira eu vejo o livro que te inspirou,
dizendo em letras garrafais: how to disappear completely.
Eu vi você partir em meio ao pó.

Você ainda ouvia os vinis de seu pai
e tocava o coração de Martha que vinha somente para te olhar.
Enquanto eu tomava o chá,
você gritava que não há uma forma de fazer o chão parar de trincar.

Olhe só para seus pés,
fixe no chão sua raiz.
Eu sou teu atalho para o novo,
enquanto você insiste em botar pontos finais em cada sorriso em seu rosto.

Lembro-te, porém,
que és vivido e que já passou por maus bocados.
Lembro que você é profeta velho, que insiste em viver assim,
com esses poucos trocados
e que ao lado de ti devia haver alguém para te amar.

O dia amanhece mais uma vez, meu caro amigo,
e pela fresta da madeira que empenou entra um raio pra cortar,
entra o sol pra afirmar que o futuro já chegou.
Vê se lava esse teu rosto,
reforma a casa, paga o último imposto
e abre o olho pro que há de vir.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

How does it feel?


Pedem para que eu feche a conta,
é hora de fechar as portas
e mandar os velhos pensadores para casa.
Eu me lembro do que Jack me dizia em seus livros
e faço de minha vida um retrato dos belos anos 50.
Seguindo os loucos e os desajustados,
por becos, vales assombrados,
cantando e pensando no que houver para pensar.
O som do trem que passa em contato com o trilho,
o apito que avisa que é hora de partir.
Vento forte no rosto de quem acredita em si
e caminha longe por sempre se cansar de ser quem é.

Olhe para o lado e veja quem te acompanha
e sacie sua sede de loucura com as palavras que ouvir.
Aprecie o dom de conhecer o novo,
idolatre o velho por garantir seu pé no chão.
Eu acho que meu mundo, antes de tudo,
é um monte de gente negando a ilusão.

sábado, 3 de novembro de 2012

Quando tiver 23 escreverei um grande poema

Anda pelo gramado verde,
farto de tristeza que ainda cresce.
Doces eram dias passados,
fortes trovadas,
suado, ensanguentado,
no limite de tudo que esperava.
Na capela, onde a oração ecoa,
doente pelo fardo que carrega,
implora para que tudo vá embora.
Confessa que a metade de sua vida
passou rápido, doentia,
e que deseja ofuscar sua memória.

Aponta o polegar pro vento,
espera que as rodas que agora correm
freiem para o seu penar.
Engole a saliva dura, dá um trago,
ajeita a postura,
começa logo a contar:

"Venho caminhando por essa estrada a passos largos,
tentando enfrentar alguns demônios,
apagar o meu passado para enfim me libertar.
Digo que a tristeza da conduta infame me lembra que por mais que eu ame,
não poderei nunca a conquistar"

Ao bater no balcão pedindo doses de melancolia,
insistindo para se focar na noite,
esquecer o dia,
engole a seco os socos que a vida lhe dá.
E ao gastar seus últimos dólares para ouvir uma canção,
arrebenta a corrente dos pulsos,
se livra da estrofe e refrão,
levanta e volta a caminhar.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Após o riso

Despeço-me de você com certa urgência
não porque quero partir,
mas sim por não aguentar mais segurar.
Amanhece o dia e, logo de cara,
sem clemência,
é ignorado o princípio, o meio
e apresentado o fim.
Peço para que não tente se consolar
procurando de bar em bar
sorrisos de fundo de copo.
Meu espaço será preenchido logo,
quando o semáforo abrir,
quando correr a água suja desse córrego.

Assumo a culpa em partes.
Minha tendência a enlouquecer te assusta
e quando toca o sino da madrugada escura,
você procura meu braço,
mas eu já parti.
E com o conta-gotas, pingo no papelão a dose.
O necessário para abrir a porta
e chamar os anjos pra cantar.

Não tenho certeza se devia me desculpar,
já que minha vitória se dá na sua angústia.
Se queres saber um pouco mais de mim,
afirmo que sinto muito,
mas é pouco demais pra parecer assim, tão ruim.
Coloca um novo quadro na parede,
te ajudo a pendurar...
Se ficares a olhar as nossas fotos,
sei que chorará.

Lembre-se que o sereno dessa noite não trará
nem febre que castiga,
nem cápsulas para a dor passar.
Trará consigo um novo início,
no fundo do poço não se pode mais afundar...
E quando, enfim, deixares de lado minha memória,
colocar no prato as cartas,
incendiar com o fogo que implora,
perceberá que só existi pra te dizer adeus.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Dilúvio espiritual

A bordo do St. Petter,
nuvens negras como seus olhos
e ventos tortuosos
arrancando a pele de meus ossos.
Minha viagem astral,
destino ao infinito, do outro lado da colina,
onde os índios escrevem com tinta
nas cascas de suas árvores de Natal.
Me desloco por esse mar aberto,
com alguns dos antigos amigos,
meu irmão e meu velho,
em busca daquilo que qualquer um quer.
Duvidamos da dúvida escrita na pedra,
do mistério que o divino carrega
e de tudo que o homem criou.
Entoando as canções dos navegantes,
dos pirantas à conquistar suas amantes,
das sereias que destroem a quem breve lhes amou.
O que afunda, hoje, é mágoa antiga
o tempo passa rápido,
cicatriza sua ferida
e me lembra, rapidamente, do que falava meu avô:
"Não sou menino, pois fui consumido pelo tempo.
Enquanto vivi na terra dos homens,
quando o vigor se fazia presente,
quando me chamavam de jovem,
batalhei por quem andava ao meu lado.
Me fiz homem, não morri afogado.
Lutei por aqueles que amei."
Agora, quando salgo minha boca
após os socos das ondas,
acordo meu espírito cada vez mais.
É como se o passado tivesse me iludido...
O hoje desentope meus ouvidos
e eu ouço os cantos celestiais.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Caramba

Não ligo muito para o tempo,
nem pra forma como você o vê.
Eu enxergo dia,
mas não o vejo passar,
não o sinto me levar um pouco mais além.

Além é outra coisa que não sei...
Acho que me perco por desacreditar no que já fui.
Por só pensar em me criar no agora,
me esqueço que um dia fui outrora,
e que sou assim por causa do relógio que insiste em rodar.

Ora pois, pense comigo amigo:
Pra que tanto se ligar ao que passou,
pra que tentar limpar as mágoas que a chuva já lavou,
se podemos somente ir em direção qualquer?
Me lembro que a canção dizia claro,
WE DO NOT CARE!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Stop the clocks

Encontrava-se parado,
bem no centro da estrada,
enquanto caçadores atiravam
e patos vinham ao chão.
Ouvia o silêncio dos disparos,
sentia o vento do grande caminhão
que passa rápido,
sem nem perceber quem é o tal cidadão.
Se os pés se cansaram,
não sei...
Posso lhe dizer que gastei anos a procurar
e ainda não encontrei.
Se a escolha é dele? Afirmo que sim...
o que pudia fazer já fiz há tempos,
imprimi o roteiro, pauta, os argumentos,
e mesmo assim não pude impedir.
A brisa leva embora o sentimento triste que carrega.
Por de trás dos óculos,
há gotas que ainda o cega.
E mesmo que grite pra que pare,
que ajoelhe e implore que ele fale,
não há som que o faça desistir.
Já vi sonho se formar dentro de mim,
já fiz tudo pra fazer alguém lembrar,
já corri por entre carros,
pulei pontes,
me esqueci,
e descobri que não se encontra quando não é para encontrar.
Quando some de vista de tão longe
e eu sigo olhando o asfalto borbulhar,
faço reza, aperto o terço,
chamo Buda, Krishna ou Alá...
e imploro de maneira humilde
pra que meu amigo não se perca de tanto amar.

sábado, 6 de outubro de 2012

Manhã de sábado

Quero mais um segundo,
um copo fundo,
um respiro a mais.
Essa sua vida à margem,
esse excesso de politicagem
destrói tudo que quero pensar.
"Don't let me down", she said...
Tô na espera,
a flor aguarda que eu a regue,
mas o sofá me chama pra conversar.
Melhor agora do que depois,
já que hora é passageira,
ponteiro que guia as rodas,
você se senta e mundo passa.
Tanto faz a quem se opôs,
a história de guerra agora é verdadeira,
destacam-se visivelmente as frotas,
saca a arma e dispara.
Fim da paranoia ao som dos violões.
O abrir dos olhos verdadeiro,
sem imagem virtual,
pé fixo no trajeto,
imãs presos ao mural.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Meu dadaísmo e o rolar dos dados

Frágil recomeço
e um translado de tirar o fôlego.
Eu espero que,
ao pagar o preço,
receba em troca o troco.
Meu pé de laranja lima,
ciranda de roda que aqui jaz, sofrida.
Do caderno de caligrafia
sobrou a nota baixa,
letra esgarranchada,
você sabe que desde àquela época eu já tremia.
Hoje, claro, mudou o tom!
Tremo incessantemente,
quando grito tão contente,
mas não vem o garçom.
Boémia do século novo,
Nelson Rodrigues que se cuide:
"Em 2001 ninguém bebia um copo de cerveja sem paixão".

Pois é o fim, agora, da madrugada.
Vinícius me mostrou o sábado,
o precipício,
a noitada,
as regalias,
as mal-informadas,
as trapaças do domingo,
como desarrumar as malas.
E eu, que venho de longe só pra sorrir aos poucos,
troco o inferno do passado
por calor, meio do mato,
cercas de arame,
cavalo velho fazendo o arado.
O concreto ficou no passado.

E de tantas referências,
mapas cartográficos,
surpresa!!!
Lá se vai sua inocência.
Presa à âncora que afunda
sossegadamente no mar.
Zé Geraldo bem me disse:
"Quando a água bate na bunda, vagabundo aprende a nadar".

Quando chego ao fim pensando no próximo passo,
o dadaísmo que queria
se perde,
se vai,
adeus compasso!
Não sei bem o que traduz meu gesto.
Sei, talvez (ou não),
que pagando caro,
ou comprando o pão,
continuará firme o mistério.

Enquanto a dúvida se mantém tranquila,
assim,
caminhando à vera,
"Sua rainha tá ciscando,
já era"!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Não me importo com a nuvens

Conta pra mim teu sonho,
abrindo a janela pela manhã.
Deixa que a mesa eu ponho,
quero te ouvir um pouco,
enquanto pico as maçãs.
Naquele tempo em que eu era moço,
quando a gente se iludia
e pensava que era o fim...
Veio o novo,
cabisbaixo, pouco risonho,
nos lembrando que história de livreto
não termina assim.
A gente senta,
enquanto o leite esquenta,
julgamento que se foi.
De nosso passado sofrido,
apagamos o triste que tínhamos vivido
e deixamos o pouco que sobrou.
Em cima disso,
contruí um lar,
te chamei pra perto,
um chalé coberto
e você veio morar.
Agora o dia todo passa,
o sol se esconde lentamente enquanto você me abraça
e eu só desejo que o tempo passe devagar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A esperança dança na corda bamba de sombrinha

Troquei as cadeiras e os móveis de lugar.
Tenho pouca fé pra repousar
e por isso dormir se tornou luxo.
Quando se perde a fé,
compra-se mais café para se passar.
O dia entende que ele se estende pra nunca mais acabar.
Minha metáfora categórica é mesmo assim:
um pouco estranha pra quem me conhece,
mais ainda pra quem nunca me viu.
Eu sei que meu palavreado é baixo
e que nunca te levarei ao céu...
Mas quando sento do teu lado,
sinto de perto o teu belo agrado,
paro e reparo que é você.

Voltando ao ritual caseiro,
digo que os números se apagaram do controle...
Transita o canal sem nem tocar o botão
e o comercial de sabão em pó me faz chorar.
Moram comigo o cachorro e uns poucos bons amigos,
mas que só vejo na hora do jantar.
Quando pisco os olhos, ou tento pestanejar,
me vejo estático na estante,
feito livro velho de folha amarelada,
pronto pra rinite atacar.

Sinto que pareço triste
quando digo que eu sou...
Mas a lembrança do passado humilde,
onde eu entoava cantos,
ria da Dona Clotilde,
passou.

E na vida que eu vivo tudo passa,
dia após dia.
Passa o tempo que eu não vejo alegria,
passa o tempo que eu quero só pensar.
Me recordo que tristeza é passageira,
vida é breve,
saudade é traiçoeira
e eu ainda ainda voltarei a cantar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Pulando corda com Alice

Ouviu seu canto longe,
e o velho nó de sua garganta ainda arranhava o céu.
Pensou em dar um volta por aí,
se levar pra passear,
tentar enxergar o que tanto lhe faltava.
Quando amanheceu e o galo cantou,
removeu os rótulos pra não saber o que tomou
e deixou a vista escurecer.
Acordou vendo os coelhos que saltavam,
correndo atrás do relógio macabro que tiquetaqueava incessantemente.
Não relutou e levantou, ainda bambo,
com um sotaque que lembrava um mexicano
que só queria uns tacos pra se alimentar.
Olha só...
Alucinante mundo que lembra a realidade torta.
A metade da vida em que se escolhe a porta
e atravessa pra nunca mais voltar.
Aí preparou o salto mortal, valendo o ouro ou a vaga na final,
e se despediu de qualquer coisa que foi ou teve.
Disse que voltava um dia, somente pra te lembrar
que quando o nó desdá,
é porque não é mais pra amarrar.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Meu poema pra você lembrar

Quando seus lábios se mexeram,
pensei em te impedir.
Era hora no relógio,
roupa no varal,
sono de cochilo na manhã.
Tinha escrito no papel de pão,
anotei a receita pra salvar seu coração.
Infelizmente eu não pude agir.

Desenrolava-se, ao redor, o seu mistério.
Como fumaça que sujava o ar,
suas palavras me deixavam cego...
Pedi que me desse água,
algo pra molhar o céu da boca.
Minha insegurança tremia em corda bamba,
tal qual o varal que segurava as roupas.

Detalhes como o anel em seu dedo.
O compromisso com o incerto - futuro taxado ao cemitério -
e eu, fixado nas solas de seus pés.
Você e seu andar sereno,
me levando horas pra cimento,
horas pro solo infértil.
Me deslocava pelo mundo sem saber que mundo era.

Foi justo no momento em que titubeei,
- quando sua mão tocou o sino,
quando por dentro eu desabei -,
que eu me vi sentado ali,
sozinho, no seu quarto de dormir,
me iludindo a conversar com as paredes.
E num relance, te deixei esse poema,
de um história longa, escrito de uma forma tão pequena.
Só pra te avisar que eu notei...
Notei que nada disso valia a pena.

sábado, 25 de agosto de 2012

Tem coisa que não muda

Perder a conta dos dias é algo normal?
Me levantei, e brevemente pensei em ti.
Só sei que pouco sei agora
e que me machuco por mudar,
adoeço por amar
essa história que não terá fim.
Bem que poderia uma hora o tempo passar.
Correr no céu o segundo,
seguindo direção que ninguém quer.
Transformar rascunho em livro,
botar no papel com capas,
vender pra aquela mulher.
Ah, aquela mulher surgia feito vento,
abrindo o peito sem temor.
Dizia-me que conhecia o mar,
amava as ondas,
mas queria outra coisa para amar.
Ofereci, de ímpeto, um lugar.
Uma casa mobilhada,
uma bela sala de jantar.
Varandas abertas para o campo verde,
flores no jardim para regar.
Uma dúzia de memórias boas,
meu coração por inteiro
e o que ainda sobrava do meu pensar.
Sei que ainda espero resposta,
ouço, por vezes, meu telefone tocar.
Corro pela sala vazia de sentimento,
procuro loucamente um lugar pra depositar o meu lamento
e só encontro mais espaço pra te amar.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Do amanhecer ao alvorecer

Vou dar voz a minha tragédia
Cantarolar o fim, sereno
sem medo,
deixar que termine.
Metais ao fundo,
cordas tortuosas feito curva pra matar.
Acidente de percurso,
falta de ar.
Mesclar idéias, frases.
Mescalina, ácido lisérgico, pó de guaraná.
Fluência sanguínea,
plaquetas, glóbulos,
hepatite A.
Embrulhando meu presente,
passado,
estômago.
Agindo feito o louco que sou,
que não fui ontem,
que quero mais.
Doses homeopáticas de prazer insensível,
overdose de oxigênio,
gás do riso,
Merthiolate pra ferida cicatrizar.
Silêncio, agora,
deixe-me respirar.
Arrebentam-se cordas,
enferruja-se de tanto não amar.
Sobe créditos,
fatura no fim do mês para pagar.
Acertar as contas consigo mesmo,
fechar o caixa,
balanço no quintal,
pestanejar.

Trilha (Stuck on Puzzle)

Estive me perguntado o que foi que você fez com todas as estrelas.
Estranhamente, o afastamento do próprio céu nos trouxe um pouco mais de luz. O lado negro, o vácuo e a incerteza do nada foram levados embora pela força de seu magnetismo.
Na pergunta que valia um milhão, respondi apenas sim. Era o diálogo insensato entre alguém que não queria o fim e o próprio ponto final. Desculpe pela falha.
Mas quando o tempo se esvai por entre dedos entrelaçados e paredes vão abaixo com um simples toque, quer dizer que é chegada a hora de parar.
Foi aí que olhei por todos lados. Da base de meus pés cansados, ao teto escuro que cobria meu penar. E nessa visão, pude rever meus atos e alguns dos fatos inenarráveis que tanto quis te contar.
O que quero dizer, por fim, é que todo esse enigma ou dilema ou bagunça ou o quer que seja, é só um detalhe. O mergulho final, tal qual âncora pra se segurar, é o que importa.
Dizer adeus aos céus, véus, a esse mausoléu...
Dizer que ainda há espaço pra sonhar.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Meu sertão (Ou a casa da montanha dos monges sem noção)

Pois é que metade dessa história é ilusão.
Traduz em erros o pobre fim que espero.
E quando chove por dias,
só pra molhar meu chão,
depois de séculos de espera, dor, sentimento e profissão.

Dessa última eu já nem quero,
nem sei pra onde vai ou foi.
Sou menos daquilo que queria antes,
pouco depois de querer nem ser mais.

E meu suspiro doloroso no fim da tarde sem você
é agravante do mistério que ninguém nesse mundo crê:
O pobre vira rico sem sair do chão,
não voa fora do corpo, não sente alma entre uma nuvem
e um avião.
É prisoneiro algemado à cadeira,
silhueta de assassino na televisão.
É espada curta que nunca lutou, nem furou nenhum dragão.
É seu próprio cárcere nesse mundo de imensidão.
É frase comprida sem sentido nenhum muito menos pontuação

Minha revolta, porém, se vê estática
sem cor
sem som, nem tom.
Categoricamente analisada por qualquer anão
guaxinim
tocador de pistão.

Às vezes, quando ouço a marcha
ou vejo lavas de vulcão,
me recordo do passado escasso, das grandes quedas de braço
que travei contra meu irmão.

Até breve, ou nunca.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre os desencontros e a lembrança da vida que não tive

A tranquilidade do seu caminhar
sereno, sob a lua.
Olhando os trilhos e o trem passar
pelo caminho que criamos.
É pouco, hoje, o aperto do abraço
que vinha sempre me aquecer.
Se esvaem, tranquilamente, os nossos passos.
Trilha estreita que nunca mais quero percorrer.
No meu sonho as coisas não eram tão assim.
Imaginação imunda que suja o real,
desbota o pensar e ignora por completo o fim.
Pois no tempo que passei aí por perto,
viajando por salas escuras,
mentes tão malucas,
perdido nesse seu deserto,
não vi nem sombra desse sonho meu.
Acontece que minha história vai se perdendo de mim
e mesmo que eu lute, brigue e grite
o fim vem logo, só pra resumir.
Deixei o trem passar, perdi a hora, nem fui trabalhar...
minha alma tá cansada feito eu,
então eu deixarei ela descansar.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Remédio pra dormir

Ah, que confusão.
Eu sei lá onde é que eu tô,
encafifado com esse treco de calor
que não passa e não me deixa respirar.
Encontro uns respingos de vontade,
vontade de sentir saudade,
vontade de voltar.
Mas mal começa essa tal vida,
velha história que anda ficando tão comprida
que fica impossível enrolar.

Gostava tanto do passado
do velho ato de idolatrar.
De pensar em coisas que se foram,
transpusemos, escrevemos
e que hoje mal consigo me lembrar.
Sei não se é poeira, sei não o que tem aqui.
Hoje eu só penso na besteira de amar quem tanto amei
e não poder vê-la sorrir.

E como sempre repito: ossos do ofício.
Do trabalho árduo de querer o fim
sem nem ter certeza do início.
Troco todo esse pensar e sentir pela calma de poder não ser
e ficando assim, não sendo por aí,
escrevo pouco
amo menos,
vejo cada dia partir.

Hoje não quero ser mais nada
nem amigo, nem poeta,
motorista do velho caminhão que percorre toda essa estrada.
O cansaço bate uma hora e dormir é necessário.
Gastei minhas economias comprando um novo colchão,
cobertores e um pequeno armário.
E depois de falar tanto, pra variar,
vou dormir como um urso, hibernar.
Volto qualquer hora.
O sono é bom pra gente esquecer de pensar.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Táxi

Eu faço plano e malas,
dobro panos e quero que o tempo também dobre.
Espero o que há de se esperar:
o almoço, o jantar
meus amigos tranquilos,
bêbados, pra variar.
Desdobro o estômago, desdou o nó
destravo a garganta, tiro de cima de minha esperança o pó.
O horizonte já se aproxima,
vou na cabine alta, um visão legal de cima,
e de longe já vejo você sorrir.
O retorno é alegria em comprimido,
tomo logo dois,
tá quase na hora de partir.

domingo, 15 de julho de 2012

A transição

Doze passos nos separavam naquele momento
e tremendo, pude te dizer sem medo
que a vida é mesmo uma confusão
e que infelizmente não há espaço pra esperar.
Nessa caminhada obtive chaves que não uso
de portas que nem sei
de corações que nunca toquei
mas que estavam sobre meu poder.
Sobre poder, digo que não devo ter e nem quero
meu domínio se limita à quatro paredes dentro de meu cérebro.
Todo o restante foge da minha noção.
Um inferno grandioso, cercado por vozes que ensurdecem
é uma tortura o nascer do dia
é uma dor o sol partir.
A troca é feita assim:
eu vivo dessa forma errada só pra chegar no fim.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Sr. Everaldo do 420

Essa vizinhança anda meio estranha
Tem adulto correndo atrás de pipa,
criança movendo montanha.
Eu sei lá muito bem sobre o que eles pensam.
Sei que do jeito que tá,
vai acabar logo toda essa andança.
Me parece que a insanidade mora ao lado,
mas nada de bater,
é só entrar.
Tem dias que lá eu passo pra ver tv,
conversar.
Saio meio grogue, cabeça cheia de ar.
Bom pra refrescar...

Tem cercas nos jardins,
coleira no pensar.
É proibido sorrir,
liberado fumar.
Uma bagunça tão, mas tão grande
que dá preguiça de arrumar.

Fica tudo do avesso, o carteiro já nem vem mais entregar
nem carta nem conta nem boleto nem amor pro pessoal amar.
O moço do sorvete comprou um bote e começou a remar.
Tá todo mundo ficando louco,
abandonando o barco, avião, trabalho e o que mais houver pra abandonar.

Vou ficando por aqui, minha janela é boa pra observar.
Enquanto eles temem o futuro, pensam somente no inseguro
eu tomo suco e como bolo de fubá.
De vez em quando compro o Veja,
lustro o vidro pra não embaçar...
Tanto tempo olhando a vida pela janela...
me deu uma vontade de viver...

Vou levantar.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Além do expediente

BEEP BEEP BEEP BEEP!
Levanto!
Água no rosto, café na pança:
Começa de novo.
Uma gravata pra enforcar,
uns trocados pra pagar
o trem.
Pro almoço, o que tiver
come um pouco, levanta, fica de pé.
Abre o olho meio torto, meio pouco.
Não dormiu e nem vai dormir essa noite de novo.
E assim vai indo.
Liga pro patrão, pede informação,
passa cartão, cheque nem pensar.
Vive assim: ouvindo reclamação
pra de noite jantar pão... com pão!
E chega no querido lar,
cansado, só quer conversar.
Encontra saudade de quem não tem perto...
de quem pensou durante todo o dia,
mesmo que quieto,
enquanto lutava contra o viver.
E pode passar chuva, trem
passar café ou não passar ninguém,
que no final, sem pregar o olho, sem dormir
vai lembrar que lá de longe tem uma simples existência que ainda o faz sorrir.
Ahhhhhhh, que bacana.
Mais uma vez ele deita na cama,
pra de novo sonhar com quem ama
e quem queria toda hora ali.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O dia corre se você sorri

talvez seja a hora de abrir meu peito
pra quem sabe ouvir resposta
continuar conversa
descobrir que fui eleito por você.
pois há dias que o que eu preciso é de uma mão
mais um par de pés pra me segurar no chão
um coração novinho em folha pra me ouvir falar.

nesse sobe e desce de degraus
nesse calor escaldante que me esquenta e me deixa mal
eu penso nos dias de chuva e tranquilidade do nosso lar.
reescrevo histórias e as conto pra você
e dentro da minha mente tudo passa devagar, só você crê
parece que decifra todo o meu pensar.

não nego que não tenho muito a oferecer
quem sabe meu carinho, meu colo
sei lá, um buquê...
mas o pouco que tenho é teu e não muda
fica na estante, na parede suja
guardado com as chaves que dei pra você.

e não espero muito, nem espero pouco
espero um segundo onde eu diga que fiquei louco
e você diga: não faz mal, esse é você.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Caixa baixa

tem horas que abrir meus olhos é mais difícil do que dizer que a amo
e o sol que insiste em penetrar as frestas da janela me assusta como um demônio
eu só peço mais um pouco de tempo,
um copo d'água, sei lá.
essa dor que sinto vem de dentro
e não há uma pílula sequer capaz de curar.
nessas horas a gente percebe que o vento é essencial.
que quando o calor surge, ele o leva embora em seus braços...
tão longe que mal conseguimos enxergar.
pode parecer exagero de minha parte,
mas prefiro assim.
pensar que minha vida é coordenada por ações que cabem a mim,
e não a você.
e eu sei que me engano cada vez mais quando digo que isso não machucará,
mesmo sabendo que no fim o corte sangra aqui.
eu acabo transformando a mudança no meu dia-a-dia.
é uma forma de fazer o meu relógio perder sua função.
facilita a ação.
dificulta o viver.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Soma

A gente acaba ficando assim,
quase sem saber no que vai dar...
pensando no que pode ser,
ou naquilo tudo que virá.
Uma hora tá tranquilo no seu canto
e vê a história passar lentamente.
E, de repente, me cubro com teu manto
e esquento o frio que estava a me gelar.
É coisa que a gente não espera,
aparece bem depressa, te chama pra dançar.
E você que não dança há um bom tempo,
se recompõe, faz um breve aquecimento
e parte pro abraço que tanto quer ganhar.
Não hesita na hora de dizer que ama
e que quer guardar o passado, recomeçar.
Sobe num palanque, assume o volante,
faz o que for preciso pra vingar.
E no momento que ouve de volta tudo que relutou em dizer
sente o alívio subir pelas veias,
vê um novo dia amanhecer.
É hora de deixar tudo rolar,
deixar o futuro acontecer.
Nada de guardar para depois.
Tá na hora de transformar esse "um" em "dois".

terça-feira, 12 de junho de 2012

230

Sol pela manhã para esquentar a nuca,
o caminhar cansado de quem quase nunca
se esconde do vento.
Peço que me diga quando volta aqui,
pois minha vontade é de correr ali
e ver se há algo que eu possa mudar.
O transcorrer da história se parcela assim:
primeiro vem a sorte e depois o fim.
Mas deixa que uma hora há de se ajeitar.

Então eu mudo de lugar a estante,
troco o sofá.
Pinto de verde a geladeira pra você gostar.
E deixo que as rédeas sejam suas,
vem, pode pegar!
Escolhe o caminho que eu vou trilhar.
Destrói esse moinho que quer me assustar
e troca essa dor por um pouco de chá...
pra gente tomar.

Trocando em miúdos, a gente vê que não
dá para viver assim, bagunçado, no chão
e espera que se levante um leito pra dormir.
É que a noite chega e traz o que não quer:
o frio para lembrar que ela já foi a mulher
dona das respostas que você tanto quis.

Por fim, deixa de lado,
diz que é bobagem.
Esse presente louco já está de passagem.
Daqui a pouco chega um dia melhor.
Bota no canal 12,
muda a canção de tom.
Repinta a geladeira,
troca de garçom
e pede saideira,
diz adeus...
tá bom.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

14 polegadas

Você sabe do que me refiro...
Aquelas pequenas bolas luminosas que surgem
quando cerramos os olhos e os apontamos contra a luz.
É que essa luz me lembra muito bem...
Me lembra do seu olhar tranquilo,
da sua voz que acalma.
E eu não sei porque eu faço essa ligação boba.
Mas é que quando você tá, eu fico meio assim...
Mais pra lá do que pra cá. Bambeio.
E no meio dessa vida insana, eu firmo os pés na lama e converso com o céu.
Peço pro seu Pedro, seu João, Antônio casamenteiro
que me mande notícias do seu Senhor...
pois uma hora ele me falou que tinha um presente para mim.
Descobri, por fim, ser uma pequena tv que não mudava de canal.
Mostrava o seu dia-a-dia, como se fosse um mural.
Bom... eu fiz o que tinha que fazer.
Me mudei pra debaixo da figueira, puxei uma extensão, fiz uma fogueira
e lá morei até você aparecer.

Trilha sonora do meu sonho

Você continua andando em círculos,
procurando um lugar pra estacionar.
E é como se você tentasse dar um nó no vento
só pra ver se depois consegue desdar.
O que eu sempre digo é pra que você pare.
Pare por aqui, sente um segundo e ouça o que tenho pra dizer.
Continua procurando um novo lugar para morar,
mas eu te ofereço minha casa, minha cama...
Você insiste em negar.
Chegando nesse ponto onde você está,
tentando abrir a porta, pular o muro,
se integrar...
E no fundo você sabe que é tudo em vão
e que a canção está prestes a acabar.

Eu acabo te jurando que a chuva irá passar
te ofereço o meu peito,
meu apreço
e minha calma que nunca acabará.
É que doar meu tempo assim,
sem medo, sem penar,
me faz pensar que talvez você perceba que seu lugar é aqui
e não lá.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Eu vou pra casa

Tem horas que penso no futuro com tranquilidade
e vejo que o logo mais é cheio de velhas histórias,
repleto de boas memórias e se esvaziando de saudade.
Cada pequeno passo dessa noite me aproxima de meus próximos,
me aproxima dos amigos, desfaz todo esse imbróglio
e diz pra eu me acalmar.

domingo, 3 de junho de 2012

Guria

Deixa um espaço pro que há de vir
Reserva que um dia há de chegar
Vai levando a vida no pandeiro
Sem dinheiro,
sem candeio.
Tranquilo.

Faz uma limpa no que há por dentro
Nada de ódio,
um pouco de ópio,
porque são não se faz.
Os malucos fazem mais.

E por fora, dá um trato.
Cuida da garganta,
faz uma limpa no prato!
Tá na hora de abrir a janela
e deixar que a vida entre devagar.

E é isso mesmo...
Devagar!
Pois toda essa pressa só há de te atrasar.
E se tá afim de ver o futuro,
'cê tá errado.
Tem presente de montão desse lado do muro,
deixe de ser afobado.

É no hoje que a gente faz história
o amanhã, uma hora ou outra,
vira memória.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Devagar

O meu dia amanheceu meio do avesso,
um bagunçado diferente
não tava acostumado
mas achei legal.
Na parede tinha um tanto de fotografia
com rostos que eu não conhecia
mas sentia que amava.

Pro café da manhã tinha torta de maçã
um suco pra revigorar
um comprimido pra dor parar.
Na cadeira ao lado tinha uma moça que dizia
que os dias que eu queria
estavam prestes a chegar.

E na doce esperança do futuro
me levantei e levei a vida leve.
Fui pro trabalho, peguei meu ônibus
ouvi o som dos pés cansados,
as vozes das mulheres tristes
reclamando do salário e de tudo mais que vissem.

Mas pra mim tinha mudado tudo
o diário escrevia grego,
eu entendia turco.
Vi que os lados que se opunham se juntaram para mim
que a vida que eu propus a ti começava
e que bons tempos haviam de vir.

Tudo bem achar que a vida é bagunçada e
que a hora tão esperada custará a chegar.
Mas é na manhã nublada, quando a fé já se foi de tão cansada,
que as coisas começam a se firmar.

O bom da vida tá no se deixar levar
se deixar viver
deixar rolar.
Uma hora ou outra,
tudo aquilo que é pra ser...
será.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

TRI-BO

Quem é esse moço, Xogum?
Que chega quase sem fé.
De noite caça tatu,
de dia planta café.
Dizem que chama Mussum,
eu digo que é Pelé.
Andando com zum, zum, zum.
Flertando a fia do Pajé
Tá chei de zói no bumbum
da prima do Zé Macalé.
Cuidado rapaz, vê se some.
Aqui não é lugar de mané.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dormi demais, pra variar

Soa engraçado o barulho do tempo.
Tento definir o tom,
não que seja lá meu dom,
mas vai que eu decifro o mistério além.
Tique-taqueando, sigo devagar.
Nada de correr,
ou me afobar.
Afogo-me nesse café com pão.
Amanheço pra fazer de toda essa canção
espaço pra eu me alegrar.
Todo dia ela passa pra me avisar
que o horário do ônibus mudou
e pede pra eu tomar cuidado pra não me atrasar.
Diz que o sereno dessa noite vai me resfriar
e que nesse tempo maluco,
é melhor eu me agasalhar.
No fim me pego rindo de todo esse blá blá blá.
Percebo que tempo é relógio que pode me resfriar.
E que de noite, quando sereno cai
O vidro embaça,
eu sento na praça
e vejo o tempo passar.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Dois pontos, uma reta.

Deixar de lado a dor
de frente ao espelho
olhar profundo dentro do ser
ser quem quer que seja
haja como deva
pense um pouco
mais.

Tem tempo pra sonhar
o agora passa e você perdeu
perdeu o nome
carteira
sobrenome
cabeceira
não dá mais pra deitar.

Me levanto, pois é o que há
há quem diga que não dá
corro
ando
pulo
só não vou voar
levaram asas.

Disforme mesmo
pois é assim que sou
e você também
ou não
me apaixonei
e me esqueci.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Calma com a alma

Admito que por dias eu pensei em me mudar.
Construir uma família no alto de um monte,
plantar o que comer,
regar para colher,
recomeçar.
Estive pensando em te chamar pra ir comigo.
Tive medo de ouvir um "não",
ou que talvez me desse um empurrão:
"- Cresça, menino! Tire os olhos do umbigo!".
Não sei muito sobre mudanças.
Sei que talvez eu mude mesmo sem você.
Já tá na hora de eu botar meu coração no alto.
Passou da hora de eu comer asfalto
E então correr.

Mas no fim das contas eu confesso em carta ou em mensagem na caixa postal:
"- 'Cê sabe que tô indo embora, volto qualquer hora e vou te procurar.
Só preciso mesmo dar um volta, ver se acho uma pessoa que consiga me curar.
Peço que espere um pouquinho, quando eu voltar te trago um vinho, você prepara o jantar.
Aí a gente conversa sobre a vida e, quem sabe, decide o dia que a gente vai casar.".

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Até que

Vou te dizer que meu adeus foi breve e que os abraços não demoraram tanto. Vou te dizer que a pressa era a vontade de estar perto. Era a vontade do ver outra vez.
Vou te dizer que agora eu já me acalmo e penso em tudo que pode acontecer. Penso também que será bom, ainda que nada aconteça.
Vou te dizer que já é hora de partir e que tem muitos que me esperam, ainda que não pareça.
Vou te dizer que agora minha história volta a ser aquela de antes, feita pra viver.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O regresso.

Hoje eu resolvi andar pra longe
Ver se reencontro os antigos
Ver se acabo com a saudade.
Logo mais eu chego perto,
Abraço quem mais quero
Sinto o frescor da liberdade.
Esse caminho pra casa é tão tortuoso
que de longe me perco fácil
Vejo todos voltando sempre
E eu aqui, com meus pés amarrados.
Mas que bom que isso passa em breve.
Mas que bom que tudo vai acabar.
Que saudades sinto das mulheres
dos amigos, dos bares, do bem-estar.
E estar eu estarei por horas
Ouvindo sons de vozes que outrora
Animavam o meu penar.

Juro que não me canso de pensar
Juro que me lembro a cada instante
Minha mãe faz o jantar
Eu compro duas garrafas de refrigerante.
Meu irmão quer me contar
histórias sobre elefantes
Meu pai vai me cobrar
e perguntar sobre as amantes.

E nesse pequeno poema juvenil eu tento expressar minha saudade. Saudade dos que quero perto a todo tempo, dos que refrescam minha alma mais que um bom vento. E meu relógio hoje conta ao contrário, e os ponteiros sorriem a cada segundo a menos. Volto logo.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Ácaros

Tinha eu que virar super-herói,
matar bandido,
combater o crime.
Acabei virando pó
e pra debaixo do tapete fui varrido.
Nesse mundo de sujeira
eu vi de perto o esquecido
a palheta da guitarra, o anel da namorada,
o amor que tinha sumido.
Só que isso pesa sobre mim
e levantar é tão difícil...
Agora eu durmo das 6 às 23
e o resto eu passo sozinho.
Pode parecer triste esse meu mundo coberto
E no final acho mesmo que é
Dia após dia eu passo atoa
Às vezes acordo, assustado com o barulho do pé.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Poesia do riacho pequeno no fundo do quintal do meu coração

Meia noite e meia
Tiro a meia, tiro o pé.
Pela areia, calmo, arreio o burro
busco ar enquanto há um tempo
e ainda sinto-me inseguro.
De cá pra lá, vou acolá em um segundo
Me seguro e asseguro que não vou chorar.
Esse adeus é dor que passa
Paz que volta quando dá.
Se não der, peço a tu, mulher
Que fiques mais, mas sem pensar.
Sente tudo que é melhor
Sente aqui pra eu contar
Com tu por perto eu rio muito
Com sol, no rio vou nadar.
Peço uma benção, mãe querida
Digo que quero essa partida,
Mas parte de mim quer é ficar.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ode a vida.

Vasto é o mundo em que vivo. Uma casa apertada não guarda minhas malas.
Carrego o mundo que posso. Levo de canto, de lado e como for.
Hoje me lembro do passado sem receio. Já apaguei a dor.
Todo caminho que corri ou percorri me serve de aprendizado e se afina conforme ando.
Vejo o mundo por outro lado. Vejo o mundo como quero.
Afinal, sou o novo dono de meu ser. Dono de cada passo e pulo.
Dono da idéia que brota e do susto que volta.
Enquanto isso, encaro o novo como novo. Como realmente é.
Ficou fácil agora.
Ouvi o conselho do sábio e descobri o lado certo de cada coisa.
Me vi por fora.
Sendo assim, agradeço a cada segundo que passa.
Agradeço os sorrisos que brotam como flores.
Aos amigos que surgem feito vento.
Ao novo amor que nasce a cada instante.
Se encantar com a vida é um privilégio para poucos.
E enquanto muitos vivem a chorar, eu vivo a viver.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Gente, tem empada.

Me puxaram pelo braço e disseram preu correr
que o tempo tava passando,
a gente precisa andar se quisesse ver o sol nascer.
Mas aí me levaram longe,
me juntaram com uns caras loucos, tipo uns monges
e começaram a cantar.
Durante esses dias, me ensinaram sobre a vida,
sobre a dor de mortes sofridas,
mas principalmente sobre como amar.
Como amar o sol e a chuva,
a dor de garganta de manhã,
a sujeira do pé, das mãos, da minha blusa
e também o sorriso de lá.
Vi um monte de gente inquieta,
sem parar um segundo nem pra pensar.
Só fingia que era poeta,
escrevia no céu ou no prato, antes do jantar.
Foi um monte de universo junto num pequeno lugar.
Pena que agora despeço, volto pra casa, regresso,
É tempo recomeçar.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Ok.

Eu tô longe,
Tô perto
Muitas milhas distante do que é certo
Mas tá bom.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Mais um macaco sem um galho

Tá escuro por aqui
e sobra espaço do meu lado.
Eu queria te pedir que volte,
mas que volte já,
pois falta carinho, sobra saudade, quero teu abraço.
Veja que a noite trapaceia a razão,
me faz pensar demais, mas não com a cabeça,
com o coração
e no final das contas eu me embaralho e fico assim,
procurando um galho pra agarrar,
um pouco de adubo pra esse jardim.
O incrível é que você se esconde
às vezes tanto que nem sei onde
e fico a me perguntar:
Será que eu te assusto
ou o que te assusta é amar?

quarta-feira, 21 de março de 2012

Só converse com ETs durante o dia

Fique atenta!
Abra os olhos, afirme os pés.
Eu tenho que lhe dizer o que guardei antes que o tempo se esgote. Espera só eu amarrar os meus sapatos, agarrar umas roupas, juntar meus velhos pedaços de pano e correr até aí. O relógio também corre.
Hoje as coisas resolveram acabar e eu ainda não havia pensado em nem metade do que lhe falar. Mas é assim que será.
Te peço que mostre quem é, mas preciso que seja agora. E que talvez me explique como você fez pra conseguir tirar toda aquela história da memória.
Eu digo que aprendi a ser mais tolerante e a ouvir um pouco mais, embora por vezes eu me cale principalmente por não estar nem sequer ouvindo.
Queria ter criado o universo tão sonhado. Deixado de lado tudo que a gente possuia e então seguir.
Pena a música ter parado e o universo ter mudado por completo.
Fique aí um tempo que eu vou tentar ir por aí. Só esqueça a noite. O dia se parece bem mais com você.

quinta-feira, 8 de março de 2012

São lidão.

Doze meses se passaram
E o céu, enfim, mudou de cor
A gente veio pra bem longe
Andou com cavaleiros, serpentes e monges
Sentou no topo pra ver o sol se pôr

Eu trouxe comigo um pouco de você
Mas a gente às vezes se esquece
E quando menos percebe
Tudo se transforma e a gente não consegue mais entender.

O jeito é arrumar um novo rumo
Num lugar um pouco menos inseguro
Com amigos que não fiquem em cima do muro
E alguém pra caminhar no futuro.

Justamente nessa hora a gente risca a agenda
Joga fora o passado,
Diz pra todo mundo que nem sequer se lembra
Quando na verdade guarda pra si
Tudo que não quer falar.

Se iludir é o melhor remédio, sim
Ainda mais quando não há aspirina, nem remédio pra dormir
Prefiro assim, calado, de lado com o que sonhei
Tal qual aquela bela canção,
Feita pra doer o coração,
Que um dia eu cantei.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Tá ficando tarde

Já não era sem tempo, Sr. Doutor
É hora de fazer um trato, dividir os danos, separar os estragos
E ver quem paga pela situação.
Olha quanta coisa tá quebrada, até mesmo o velho braço de minha enxada
Pague a vista, nada de cheque ou cartão.

Digo...
Você me viu de longe e analisou os fatos
E sabe mais do que eu que não fiz por mal.
Mergulhei fundo naquele nobre regato
Tentando fazer daquilo meu oceano, de fato
Mas me perdi no meio da natação.

A parte dura dessa longa história é ver de longe apagar memória
E eu aqui, acenando com minhas mãos.
Tão cansado de tentar ser outro, passando de sufoco em sufoco
Humildemente, te peço perdão:

Eu queria mesmo era criar desfecho
Tô cheio de tanto choro, dessa falta de apreço
Preciso mais é de um novo ar.
Preciso mais é aprender a amar.
Preciso mais é voltar a andar.
Preciso mais eu sei lá de quê.
Me desculpe não saber dizer, talvez um dia a gente volte a crer
E aí então não haverá o que temer.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Seiva.

Me lembro apenas que era véspera
Um dia antes do futuro todo
Minha cabeça foi rolando morro abaixo
E você falando do sufoco.

Eu queria ser malandro, pular o muro
Dar a volta ao mundo.
Rir da piada do português, falar um idioma novo, tipo francês
Mas resolvi ficar.

Quem me chamou foi você
E mesmo sem implorar, eu disse sim, sem titubear
Compramos uma caixa de Brahma no cartão
A fatura vem depois, deixa o agora assim, tranquilo, esquece a tal da razão.

E nessa rede, balançando tranquilamente
Sentindo o vento refrescar
A gente planejou a festa, ligamos pra vovó e avisamos:
- Vamos nos casar!

Quanta gente feliz, andando de lá pra cá, cantando acolá
Eu, de terno e gravata, enforcado, sufocado, e todos ados que tinham que vir
Você, linda, linda, linda
Deu medo, mas fiquei em pé, um pouco tonto ainda.
E nessa hora me lembrei do dia
Aquele que você falou pra eu ficar
Eu disse sim e hoje vejo que a gente tinha era muita história pra contar.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Até breve, escoteiro.

Nos mandaram para a floresta, onde supostamente armaríamos a emboscada que desencadearia o que eles chamavam de vitória. Éramos quatro. Eu, meu velho amigo Fritz e dois peruanos que não tinham nada a perder.
O tempo não ajudava e chovia mais do que a própria chuva gostaria.
Enquanto armávamos o acampamento, víamos em cada olhar o medo se propagar gradualmente. O medo da morte, da dúvida e da ausência de amor.
O que nos levou até lá já não importava tanto e era naquele momento escuro e silencioso que sentíamos as consequências de nossas escolhas.
Tive que parar por um segundo e trocar algumas poucas palavras com Fritz.
- Escute aqui... Me diga o que te aflinge, meu caro.
Ele, com a serenidade que só ele possuia, respondeu:
- É difícil responder agora. Estamos no meio de uma guerra que não é nossa, pagando um preço que não podemos pagar. Hoje me lembrei de Stella e senti falta de seu amor. Lembrei que minha coragem se baseava nas lembranças que tinha dela, mas agora que preciso de toda coragem, não consigo sequer recordar seu rosto e muito menos seu sorriso. Para um homem que decidiu lutar, falta agora força. Força essa que era tirada de algo tão simples e pequeno e que talvez por ser tão pequeno assim, agora já não consigo ver mais. Escute, meu caro. Sabes que o tenho como irmão e que se já não consigo alcançar a felicidade que tanto buscamos, peço que você a encontre por si só. Estamos caminhando para o fim e eu que já não tenho mais nada a perder, tal qual esses dois que não entendem sequer uma palavra do que dizemos, peço que você volte para a casa e volte a amar. Nas horas duras como essa pela qual passamos agora é que conseguimos distinguir o que realmente vale a pena nessa nossa curta, porém conturbada, trajetória. Eu vou indo agora fazer o que me mandaram e você tome seu rumo, corra, fuja ou faça o que for preciso para voltar para aquela mulher que você deixou a esperar, pois sei que ela ainda o espera. E quando chegar, diga a ela que a ama e que não consegue viver sem ela. Diga-a que errou e que se arrepende e que precisa do seu perdão. Abrace-a com a força que lhe restar e beije-a com todo furor do seu coração e fique com ela até o fim de seus dias, pois só assim sua vida valerá a pena. É isso que me aflinge.
Agora, quando conto essa história pra vocês, crianças, me lembro das lágrimas que caiam do rosto do Fritz e vejo o quanto os amigos são importantes para nossa caminhada. Seja em guerra ou na beleza dos bons momentos.