sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Após o riso

Despeço-me de você com certa urgência
não porque quero partir,
mas sim por não aguentar mais segurar.
Amanhece o dia e, logo de cara,
sem clemência,
é ignorado o princípio, o meio
e apresentado o fim.
Peço para que não tente se consolar
procurando de bar em bar
sorrisos de fundo de copo.
Meu espaço será preenchido logo,
quando o semáforo abrir,
quando correr a água suja desse córrego.

Assumo a culpa em partes.
Minha tendência a enlouquecer te assusta
e quando toca o sino da madrugada escura,
você procura meu braço,
mas eu já parti.
E com o conta-gotas, pingo no papelão a dose.
O necessário para abrir a porta
e chamar os anjos pra cantar.

Não tenho certeza se devia me desculpar,
já que minha vitória se dá na sua angústia.
Se queres saber um pouco mais de mim,
afirmo que sinto muito,
mas é pouco demais pra parecer assim, tão ruim.
Coloca um novo quadro na parede,
te ajudo a pendurar...
Se ficares a olhar as nossas fotos,
sei que chorará.

Lembre-se que o sereno dessa noite não trará
nem febre que castiga,
nem cápsulas para a dor passar.
Trará consigo um novo início,
no fundo do poço não se pode mais afundar...
E quando, enfim, deixares de lado minha memória,
colocar no prato as cartas,
incendiar com o fogo que implora,
perceberá que só existi pra te dizer adeus.

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