Esse seu lugar não é mais aquele.
Me refiro a dor que sinto
enquanto abro as janelas de vidro
para que o ar entre e leve embora o que aqui jaz.
Em sua prateleira eu vejo o livro que te inspirou,
dizendo em letras garrafais: how to disappear completely.
Eu vi você partir em meio ao pó.
Você ainda ouvia os vinis de seu pai
e tocava o coração de Martha que vinha somente para te olhar.
Enquanto eu tomava o chá,
você gritava que não há uma forma de fazer o chão parar de trincar.
Olhe só para seus pés,
fixe no chão sua raiz.
Eu sou teu atalho para o novo,
enquanto você insiste em botar pontos finais em cada sorriso em seu rosto.
Lembro-te, porém,
que és vivido e que já passou por maus bocados.
Lembro que você é profeta velho, que insiste em viver assim,
com esses poucos trocados
e que ao lado de ti devia haver alguém para te amar.
O dia amanhece mais uma vez, meu caro amigo,
e pela fresta da madeira que empenou entra um raio pra cortar,
entra o sol pra afirmar que o futuro já chegou.
Vê se lava esse teu rosto,
reforma a casa, paga o último imposto
e abre o olho pro que há de vir.
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