sábado, 27 de fevereiro de 2010

Prenda-me, oh.

Trancado no meu cárcere privado.
Aqui mesmo que prefiro ficar.
Distante de esperanças falsas.
Perto de mim.
Destrancaram meus cadeados.
Desamarraram minhas mãos e braços.
Podia eu, agora, deixar de me prender.
Mas não quis.
Entre essas paredes sei onde posso ir.
Conheço cada canto de minha memória.
Cada vazio de meu coração.
Mais que isso? Excesso.
Voltarei agora para minha cela.
Quando me for, abra a porta, entre, acenda a luz e leia tudo.
Deixo nas paredes os meus altos e baixos, amores e desapegos.
Entenderá mais de mim. Ou quem sabe, menos.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Refresquei meus pensamentos ao lado de grandes companheiros.
Amigos que, enfim, verei distantes.
Hoje o que sinto já é ausência. De todos os momentos.
Saudade é pouco para o que vocês me farão sentir.
Tol, Léo, Tandy, Diego, Brunão, Neto, Adriano, Coquinho, PDR!, Bombris, Gu, Tiago e mais alguns que esqueço de citar agora. Amizade é amizade. Irmandade é mais.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Adios, Esteban.

Acendo meu último cigarro. É uma promessa.
Sentado agora, fico a assistir a fumaça subir para os céus e se juntar as nuvens.
Acredito que ela não seja bem-vinda por lá.
Assim como não me sinto bem-vindo por aqui.
Minha visão está turva. Estou quase cego de dor.
Devia ter gritado mais. Devia ter segurado mais forte.
Sinto esse vento gélido passar por entre meus dedos e fazer brilhar a brasa de meu cigarro.
Dou meu último trago de esperança.
Crio histórias que, no final, penso ser verdade. Conto para meus netos e eles creem mais que eu.
Típico de mim.
Vi minha ascenção e queda separadas por segundos e por lágrimas.
Senti minha liberdade e me enjaulei, sem mesmo me preocupar.
Retiro, então, força sei lá de onde, e me levanto.
Está tão escuro que não enxergo meus pés tocando o chão úmido.
Dou alguns poucos passos. Era só o que restava. Tudo que podia dar.
Arremesso meu coração contra a parece. Dói.
Confesso que não sei amar. Confesso destruir tudo. Peço perdão, não sei a quem.
Não sou digno de resgate. Não honrei minha palavra.
Fiz por merecer.
Típico de mim.
Já que estou perto do fim, deixo algo para que não se esqueçam de mim.
Poucas palavras.
Cá estão: "Não sou homem mau nem bom. Nem velho, nem novo. Sou dúvida para mim mesmo. Desconhecido para todos. Deixo, desolado, ao meu lado, meu pobre coração. Qualquer porco é digno dele. Pois então, faço meu último pedido: tome-o para ti, ainda que sem servidão. É só o que peço".

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Escrevi milhares de cordéis e preguei nas paredes de minha memória. Meus pensamentos vivem lendo minhas próprias palavras o que, no final, acaba confundindo-os.
Dentro de minha cabeça ecoam versos que eu mesmo escrevo. Versos sobre o mundo aqui de fora e sobre os sentimentos daí de dentro. Converso com meus neurônios em prosa e verso. Canto cantigas e danço sambas de roda junto ao meu sub-consciente. Vivo em festa com meus pensamentos.
De relance me vejo preso a uma idéia. Não consigo desgrudar minhas cordas vocais para entoar meus cânticos que outrora animavam a festa de minha memória. Minhas pálpebras ficam coladas e estagnadas. Tudo parece estático.
Deixo para trás meus sonhos que agora mais se parecem com um emaranhado de idéias. Não vivo por mais nada. Sigo no meu pobre estado inercial.
Para um ser que assim vive tudo acaba perdendo as cores. Vejo em tons de cinza. Tudo desbotou. Até eu.
Em uma de minhas caminhadas rumo a lugar algum, acabei encontrando uma bela garota cujo o nome eu não me lembro. Na verdade, não me lembro de quase nada mais. Enfim.
A bela garota me acolheu com um abraço apertado e palavras de conforto que também não me recordo. Me botou para dormir em uma boa cama e lá fiquei por sete anos.
Acordei com os olhos doendo, com minha barba beirando os dois metros. Me levantei e vi, sentada logo ali, a bela garota. Pude ver seus belos olhos azuis, que brilhavam mais que o céu de um dia de sol. Encanto de flor.
Já não entendia muito sobre o mundo. Tudo estava mudado, incluse eu. Estranho é que, vagarosamente, voltava ouvir uma canção soar dentro de minha mente. A mesma canção que fora interrompida sete anos atrás. Perguntei, então, a bela garota: "Qual teu nome?". Ela acenou com a cabeça, negando a resposta. Insisti: "Por favor. Diga-me teu nome?". Enfim ouvi tua voz, suave como veludo: "Não importa meu nome. Saberás quem sou quando voltar a saber quem és."
Eu me vi preso de novo. Olhava pro velho espelho e não recordava meu nome, não reconhecia meu rosto. Com a tesoura velha aparei minha barba e meus cabelos. Voltei a dizer: "Onde estou?". Ela disse: "Está onde devia estar.". Me pegou pelas mãos e me conduziu até a porta. Caminhamos alguns metros por um belo jardim, recoberto de flores das mais diversas cores e tamanhos. Ouvi o canto dos pássaros, vi a cor do céu, senti o vento calmo e o aroma do verão.
Pensei ter caído em mim: "Morri?". Com calma, me respondeu: "Realmente é o que acha? Acha que morrer doeria tão pouco? Acha que sairia do mundo, repousaria e então acordaria aqui? A morte exige muito mais das pessoas. Muito mais força. A morte deve doer muito para você nunca mais querer morrer. Acha mesmo que morreu?". Não sabia mesmo o que havia acontecido comigo. Não sabia onde estava, quem era ela, não me lembrava nem quem eu era.
Sentou ao meu lado em um banco que ali havia e voltou a falar: "Você me criou. Sou o seu amor. Haviam me levado de você, mas um bom amor sempre volta pro seu recanto. Voltei quando mais precisava. Quando seu corpo caía em tentação.". Assustado, disse: "Isso é sonho, então?". E ela me disse: "Não chamaria de sonho. Esse é o teu amor. Agora sabes como ele é e cuidará muito mais dele. Conheça o teu amor e o dê somente a quem merecer. Agora vai, volta pra vida que tem um sonho lá esperando por você pra se tornar realidade.". Me deu um beijo, pisquei meus olhos e voltei a viver.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tive um sonho de alegria.
Meus pés se descolaram e voei sobre as fronteiras desse amanhecer.
Encontrei no meu céu anjos que insistiam em dizer que ventos de paz ainda viriam.
Enfrentei demônios e, ao contrário de antes, fui capaz de vencê-los.
Mas aí, de súbito, me acordaram.
Aos gritos, sem piedade.
Remexi meus ossos, descolei meus olhos e vi, enfim.
Estava tudo aqui. Debaixo de meus pés e de meus olhos.
Um sonho que se realizou ou uma realidade que sonhou demais.