sábado, 3 de novembro de 2012

Quando tiver 23 escreverei um grande poema

Anda pelo gramado verde,
farto de tristeza que ainda cresce.
Doces eram dias passados,
fortes trovadas,
suado, ensanguentado,
no limite de tudo que esperava.
Na capela, onde a oração ecoa,
doente pelo fardo que carrega,
implora para que tudo vá embora.
Confessa que a metade de sua vida
passou rápido, doentia,
e que deseja ofuscar sua memória.

Aponta o polegar pro vento,
espera que as rodas que agora correm
freiem para o seu penar.
Engole a saliva dura, dá um trago,
ajeita a postura,
começa logo a contar:

"Venho caminhando por essa estrada a passos largos,
tentando enfrentar alguns demônios,
apagar o meu passado para enfim me libertar.
Digo que a tristeza da conduta infame me lembra que por mais que eu ame,
não poderei nunca a conquistar"

Ao bater no balcão pedindo doses de melancolia,
insistindo para se focar na noite,
esquecer o dia,
engole a seco os socos que a vida lhe dá.
E ao gastar seus últimos dólares para ouvir uma canção,
arrebenta a corrente dos pulsos,
se livra da estrofe e refrão,
levanta e volta a caminhar.


Nenhum comentário: