terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Até breve, escoteiro.

Nos mandaram para a floresta, onde supostamente armaríamos a emboscada que desencadearia o que eles chamavam de vitória. Éramos quatro. Eu, meu velho amigo Fritz e dois peruanos que não tinham nada a perder.
O tempo não ajudava e chovia mais do que a própria chuva gostaria.
Enquanto armávamos o acampamento, víamos em cada olhar o medo se propagar gradualmente. O medo da morte, da dúvida e da ausência de amor.
O que nos levou até lá já não importava tanto e era naquele momento escuro e silencioso que sentíamos as consequências de nossas escolhas.
Tive que parar por um segundo e trocar algumas poucas palavras com Fritz.
- Escute aqui... Me diga o que te aflinge, meu caro.
Ele, com a serenidade que só ele possuia, respondeu:
- É difícil responder agora. Estamos no meio de uma guerra que não é nossa, pagando um preço que não podemos pagar. Hoje me lembrei de Stella e senti falta de seu amor. Lembrei que minha coragem se baseava nas lembranças que tinha dela, mas agora que preciso de toda coragem, não consigo sequer recordar seu rosto e muito menos seu sorriso. Para um homem que decidiu lutar, falta agora força. Força essa que era tirada de algo tão simples e pequeno e que talvez por ser tão pequeno assim, agora já não consigo ver mais. Escute, meu caro. Sabes que o tenho como irmão e que se já não consigo alcançar a felicidade que tanto buscamos, peço que você a encontre por si só. Estamos caminhando para o fim e eu que já não tenho mais nada a perder, tal qual esses dois que não entendem sequer uma palavra do que dizemos, peço que você volte para a casa e volte a amar. Nas horas duras como essa pela qual passamos agora é que conseguimos distinguir o que realmente vale a pena nessa nossa curta, porém conturbada, trajetória. Eu vou indo agora fazer o que me mandaram e você tome seu rumo, corra, fuja ou faça o que for preciso para voltar para aquela mulher que você deixou a esperar, pois sei que ela ainda o espera. E quando chegar, diga a ela que a ama e que não consegue viver sem ela. Diga-a que errou e que se arrepende e que precisa do seu perdão. Abrace-a com a força que lhe restar e beije-a com todo furor do seu coração e fique com ela até o fim de seus dias, pois só assim sua vida valerá a pena. É isso que me aflinge.
Agora, quando conto essa história pra vocês, crianças, me lembro das lágrimas que caiam do rosto do Fritz e vejo o quanto os amigos são importantes para nossa caminhada. Seja em guerra ou na beleza dos bons momentos.

Um comentário:

Leo disse...

J. K. manda um abraço e diz que está tudo bem por lá.
E não estou falando do presidente.