quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Transuinte

Confesso que me precipitei
e caminhei antes do disparo.
Tive medos confinados
por tanto tempo,
que só lamento.

A próxima cena se aproxima,
com uma mudança clara em seu tom.
Desponta no cenário
como faca a rasgar a pele,
especulação do mercado imobiliário,
o mesmo disparo do início,
com o som em proporção.

Somos todos parte de um plano.
Mirabolante malabarista
que transita
tentando não se deixar levar.
Sem ver,
tentando não enxergar.

E numa multidão,
virando-se pra todos os lados,
cego diante de mais de um milhão,
percebe que o caminho é um.
Mero detalhe incomum.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Carona chuvosa no caminhão do Batman

Há uma certa liberdade reprimida por muitos. Uma vontade natural de se desprender, de se mover. A necessidade irrefreável de descoberta interior. É a paixão doce por se encontrar novamente em um novo lugar. De se deixar levar por uma vontade e nada mais. De não precisar de dinheiro para caminhar. De atravessar fronteiras com o polegar. Vejo que meu mundo é meu caminho, minha jornada. Pra onde quer que eu vá, me descubro mais. É como se o aumento de quilômetros recarregasse minhas forças. Me lembrasse de quem eu sou. Essa liberdade é única. É minha, é sua. Sentir o vento de março sob o céu nortenho. Ou o abraço frio de dezembro no mais longínquo ponto do Sul. O sol de janeiro com os pés balançando no píer. Ou a memória de meu caminhar dentro do vagão de um trem. Minha história é feita pelo consumo de espaço. Pela diminuição de intervalos. Pelo excesso de vontade de sair. Ficar é passageiro. Um pensamento traiçoeiro. Prefiro mesmo ir.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Esqueci de dar corda

Vamos falar sobre o decorrer dos fatos:
primeiramente,
do passado.
Tempos atrás,
lavados.
Já nem sequer recordo,
apagados.
Volátil e frágil:
destroçado.
Depois, o atual.
Dia que amanhece,
passo que ao tocar o chão,
padece.
Vira logo o de antes,
passado.
Apagado,
esquecido
(ou nunca lembrado).
O outro que ainda falta,
futuro.
Um piscar de olhos após,
logo agora,
já,
passou.
O antes, o hoje, o depois.
Num mesmo espaço,
num mesmo tempo,
uma só coisa.
Ponto final.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Uma gota e nada mais

Abro um espaço da janela,
onde agora entra um fio de sol,
iluminando o rosto dela.
Transcendendo os limites que imagina,
corre em seus sonhos por caminhos
tão distantes da esquina.
É aí que você se vê de longe,
onde entende o horizonte,
conversa com monges,
onde o enigma se esconde
e lembra que o passo que dará a leva além.
Um mundo onde cores formam algo que ninguém crê.
Vê, lê, não sabe o porquê.
Discute, ilude,
dilemas ou meros clichês.
Seu domínio se expande,
e por mais que ande,
troféu não vê.
A batalha é árdua e se levanta ao nascer do sol.
Recolhe as âncoras
e navega a sessenta nós.
De nós não sabemos mais.
Divergiu quando um dos dois piscou,
e não sorrio.
Se viu taxado ao fracasso,
deitado em seu leito,
tão farto de espaço.
E ao fechar a fresta que iluminava,
zerou o relógio,
subiu no pódio,
findou o imbróglio
e nunca mais se levantou.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Vertigem

De alguma forma, me sinto preso. E é estranho assim, louco. Os olhos caminham por paredes tortas: "Já não há como sair!".
Tenho tido essa estranha dor no peito, como se suas mãos viessem com força arrancar o que há em mim. E é pela manhã, quando ainda nem abri os olhos. Saudade dolorida, força que não contenho.
Doze são as horas até eu me recompor. E os pés que caminham cambaleantes, traçam uma rota nunca vista. Corredores cinzas, imagens dos ídolos de outras gerações. Um poço de memórias.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Avante

Há força em minha voz
e eu mal sabia.
Quando o grito bate forte,
o sino vibra,
ao badalar o muro do quintal.
E sobe em torres
por pastos vastos que antes consumiam o silêncio,
observando ao longe a luz das tochas,
e as vozes com furor colocando pingos nos is.

São os olhos de quem não aguenta ver,
sujos pelo pó da estante dos marajás.
Uma gargante seca de tanto engolir sapo,
travada com 1500 nós.

Chove um pingo a mais para transbordar.
Desperta a fúria,
faz muralhas desabarem.
E não há um que aceite fugir mais uma vez.
Depois de tanto tapa na cara,
de tanto apanhar de vara,
regressou a lucidez.

O vento é forte,
mantem firme nossa bandeira.
Uma batalha limitada por nossas próprias fronteiras.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Entre o peso do Karma e a cobrança que tem em mim

Bem...
Eu peço um pouco mais,
algo que venha agora,
como fogo, esquentar ideias,
e me impeça de ir embora.
Embora eu deseje tudo,
deixo sempre algo a desejar.
De minha atitude fraca,
minha memória inválida,
vejo só os pássaros,
a ida e vinda dos cavalos,
o chão imóvel a me segurar.

Tenho uma série de obstáculos no caminho,
e como bom poeta,
eles passarão,
eu passarinho...
Mas mesmo que me faça leve
e deixe o vento subir pelos nervos,
acariciando a pele,
sinto sempre o fardo me afundar no solo.

São horas como essa que eu procuro o porto,
o lugar seguro onde o mais escuro ainda é pouco
pois há o brilho de teu olhar.
O invisível é uma memória incerta,
pois quando me tocas,
sua paz me carrega
e me deixa livre de qualquer penar.

Peço, de coração aberto,
que o dia do encontro seja logo
e que dure muito mais que esse longo período incerto.
Eu me recordo bem do cheiro
e do gosto do beijo,
mas a saudade é grande até demais,
me perco em meio a tantos devaneios.

Pois que venha logo o sorriso doce,
abrace-me forte e mande pra bem longe as dores
que só teu calor é capaz de expulsar.