sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Meu dadaísmo e o rolar dos dados

Frágil recomeço
e um translado de tirar o fôlego.
Eu espero que,
ao pagar o preço,
receba em troca o troco.
Meu pé de laranja lima,
ciranda de roda que aqui jaz, sofrida.
Do caderno de caligrafia
sobrou a nota baixa,
letra esgarranchada,
você sabe que desde àquela época eu já tremia.
Hoje, claro, mudou o tom!
Tremo incessantemente,
quando grito tão contente,
mas não vem o garçom.
Boémia do século novo,
Nelson Rodrigues que se cuide:
"Em 2001 ninguém bebia um copo de cerveja sem paixão".

Pois é o fim, agora, da madrugada.
Vinícius me mostrou o sábado,
o precipício,
a noitada,
as regalias,
as mal-informadas,
as trapaças do domingo,
como desarrumar as malas.
E eu, que venho de longe só pra sorrir aos poucos,
troco o inferno do passado
por calor, meio do mato,
cercas de arame,
cavalo velho fazendo o arado.
O concreto ficou no passado.

E de tantas referências,
mapas cartográficos,
surpresa!!!
Lá se vai sua inocência.
Presa à âncora que afunda
sossegadamente no mar.
Zé Geraldo bem me disse:
"Quando a água bate na bunda, vagabundo aprende a nadar".

Quando chego ao fim pensando no próximo passo,
o dadaísmo que queria
se perde,
se vai,
adeus compasso!
Não sei bem o que traduz meu gesto.
Sei, talvez (ou não),
que pagando caro,
ou comprando o pão,
continuará firme o mistério.

Enquanto a dúvida se mantém tranquila,
assim,
caminhando à vera,
"Sua rainha tá ciscando,
já era"!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Não me importo com a nuvens

Conta pra mim teu sonho,
abrindo a janela pela manhã.
Deixa que a mesa eu ponho,
quero te ouvir um pouco,
enquanto pico as maçãs.
Naquele tempo em que eu era moço,
quando a gente se iludia
e pensava que era o fim...
Veio o novo,
cabisbaixo, pouco risonho,
nos lembrando que história de livreto
não termina assim.
A gente senta,
enquanto o leite esquenta,
julgamento que se foi.
De nosso passado sofrido,
apagamos o triste que tínhamos vivido
e deixamos o pouco que sobrou.
Em cima disso,
contruí um lar,
te chamei pra perto,
um chalé coberto
e você veio morar.
Agora o dia todo passa,
o sol se esconde lentamente enquanto você me abraça
e eu só desejo que o tempo passe devagar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A esperança dança na corda bamba de sombrinha

Troquei as cadeiras e os móveis de lugar.
Tenho pouca fé pra repousar
e por isso dormir se tornou luxo.
Quando se perde a fé,
compra-se mais café para se passar.
O dia entende que ele se estende pra nunca mais acabar.
Minha metáfora categórica é mesmo assim:
um pouco estranha pra quem me conhece,
mais ainda pra quem nunca me viu.
Eu sei que meu palavreado é baixo
e que nunca te levarei ao céu...
Mas quando sento do teu lado,
sinto de perto o teu belo agrado,
paro e reparo que é você.

Voltando ao ritual caseiro,
digo que os números se apagaram do controle...
Transita o canal sem nem tocar o botão
e o comercial de sabão em pó me faz chorar.
Moram comigo o cachorro e uns poucos bons amigos,
mas que só vejo na hora do jantar.
Quando pisco os olhos, ou tento pestanejar,
me vejo estático na estante,
feito livro velho de folha amarelada,
pronto pra rinite atacar.

Sinto que pareço triste
quando digo que eu sou...
Mas a lembrança do passado humilde,
onde eu entoava cantos,
ria da Dona Clotilde,
passou.

E na vida que eu vivo tudo passa,
dia após dia.
Passa o tempo que eu não vejo alegria,
passa o tempo que eu quero só pensar.
Me recordo que tristeza é passageira,
vida é breve,
saudade é traiçoeira
e eu ainda ainda voltarei a cantar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Pulando corda com Alice

Ouviu seu canto longe,
e o velho nó de sua garganta ainda arranhava o céu.
Pensou em dar um volta por aí,
se levar pra passear,
tentar enxergar o que tanto lhe faltava.
Quando amanheceu e o galo cantou,
removeu os rótulos pra não saber o que tomou
e deixou a vista escurecer.
Acordou vendo os coelhos que saltavam,
correndo atrás do relógio macabro que tiquetaqueava incessantemente.
Não relutou e levantou, ainda bambo,
com um sotaque que lembrava um mexicano
que só queria uns tacos pra se alimentar.
Olha só...
Alucinante mundo que lembra a realidade torta.
A metade da vida em que se escolhe a porta
e atravessa pra nunca mais voltar.
Aí preparou o salto mortal, valendo o ouro ou a vaga na final,
e se despediu de qualquer coisa que foi ou teve.
Disse que voltava um dia, somente pra te lembrar
que quando o nó desdá,
é porque não é mais pra amarrar.