sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Meu poema pra você lembrar

Quando seus lábios se mexeram,
pensei em te impedir.
Era hora no relógio,
roupa no varal,
sono de cochilo na manhã.
Tinha escrito no papel de pão,
anotei a receita pra salvar seu coração.
Infelizmente eu não pude agir.

Desenrolava-se, ao redor, o seu mistério.
Como fumaça que sujava o ar,
suas palavras me deixavam cego...
Pedi que me desse água,
algo pra molhar o céu da boca.
Minha insegurança tremia em corda bamba,
tal qual o varal que segurava as roupas.

Detalhes como o anel em seu dedo.
O compromisso com o incerto - futuro taxado ao cemitério -
e eu, fixado nas solas de seus pés.
Você e seu andar sereno,
me levando horas pra cimento,
horas pro solo infértil.
Me deslocava pelo mundo sem saber que mundo era.

Foi justo no momento em que titubeei,
- quando sua mão tocou o sino,
quando por dentro eu desabei -,
que eu me vi sentado ali,
sozinho, no seu quarto de dormir,
me iludindo a conversar com as paredes.
E num relance, te deixei esse poema,
de um história longa, escrito de uma forma tão pequena.
Só pra te avisar que eu notei...
Notei que nada disso valia a pena.

sábado, 25 de agosto de 2012

Tem coisa que não muda

Perder a conta dos dias é algo normal?
Me levantei, e brevemente pensei em ti.
Só sei que pouco sei agora
e que me machuco por mudar,
adoeço por amar
essa história que não terá fim.
Bem que poderia uma hora o tempo passar.
Correr no céu o segundo,
seguindo direção que ninguém quer.
Transformar rascunho em livro,
botar no papel com capas,
vender pra aquela mulher.
Ah, aquela mulher surgia feito vento,
abrindo o peito sem temor.
Dizia-me que conhecia o mar,
amava as ondas,
mas queria outra coisa para amar.
Ofereci, de ímpeto, um lugar.
Uma casa mobilhada,
uma bela sala de jantar.
Varandas abertas para o campo verde,
flores no jardim para regar.
Uma dúzia de memórias boas,
meu coração por inteiro
e o que ainda sobrava do meu pensar.
Sei que ainda espero resposta,
ouço, por vezes, meu telefone tocar.
Corro pela sala vazia de sentimento,
procuro loucamente um lugar pra depositar o meu lamento
e só encontro mais espaço pra te amar.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Do amanhecer ao alvorecer

Vou dar voz a minha tragédia
Cantarolar o fim, sereno
sem medo,
deixar que termine.
Metais ao fundo,
cordas tortuosas feito curva pra matar.
Acidente de percurso,
falta de ar.
Mesclar idéias, frases.
Mescalina, ácido lisérgico, pó de guaraná.
Fluência sanguínea,
plaquetas, glóbulos,
hepatite A.
Embrulhando meu presente,
passado,
estômago.
Agindo feito o louco que sou,
que não fui ontem,
que quero mais.
Doses homeopáticas de prazer insensível,
overdose de oxigênio,
gás do riso,
Merthiolate pra ferida cicatrizar.
Silêncio, agora,
deixe-me respirar.
Arrebentam-se cordas,
enferruja-se de tanto não amar.
Sobe créditos,
fatura no fim do mês para pagar.
Acertar as contas consigo mesmo,
fechar o caixa,
balanço no quintal,
pestanejar.

Trilha (Stuck on Puzzle)

Estive me perguntado o que foi que você fez com todas as estrelas.
Estranhamente, o afastamento do próprio céu nos trouxe um pouco mais de luz. O lado negro, o vácuo e a incerteza do nada foram levados embora pela força de seu magnetismo.
Na pergunta que valia um milhão, respondi apenas sim. Era o diálogo insensato entre alguém que não queria o fim e o próprio ponto final. Desculpe pela falha.
Mas quando o tempo se esvai por entre dedos entrelaçados e paredes vão abaixo com um simples toque, quer dizer que é chegada a hora de parar.
Foi aí que olhei por todos lados. Da base de meus pés cansados, ao teto escuro que cobria meu penar. E nessa visão, pude rever meus atos e alguns dos fatos inenarráveis que tanto quis te contar.
O que quero dizer, por fim, é que todo esse enigma ou dilema ou bagunça ou o quer que seja, é só um detalhe. O mergulho final, tal qual âncora pra se segurar, é o que importa.
Dizer adeus aos céus, véus, a esse mausoléu...
Dizer que ainda há espaço pra sonhar.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Meu sertão (Ou a casa da montanha dos monges sem noção)

Pois é que metade dessa história é ilusão.
Traduz em erros o pobre fim que espero.
E quando chove por dias,
só pra molhar meu chão,
depois de séculos de espera, dor, sentimento e profissão.

Dessa última eu já nem quero,
nem sei pra onde vai ou foi.
Sou menos daquilo que queria antes,
pouco depois de querer nem ser mais.

E meu suspiro doloroso no fim da tarde sem você
é agravante do mistério que ninguém nesse mundo crê:
O pobre vira rico sem sair do chão,
não voa fora do corpo, não sente alma entre uma nuvem
e um avião.
É prisoneiro algemado à cadeira,
silhueta de assassino na televisão.
É espada curta que nunca lutou, nem furou nenhum dragão.
É seu próprio cárcere nesse mundo de imensidão.
É frase comprida sem sentido nenhum muito menos pontuação

Minha revolta, porém, se vê estática
sem cor
sem som, nem tom.
Categoricamente analisada por qualquer anão
guaxinim
tocador de pistão.

Às vezes, quando ouço a marcha
ou vejo lavas de vulcão,
me recordo do passado escasso, das grandes quedas de braço
que travei contra meu irmão.

Até breve, ou nunca.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre os desencontros e a lembrança da vida que não tive

A tranquilidade do seu caminhar
sereno, sob a lua.
Olhando os trilhos e o trem passar
pelo caminho que criamos.
É pouco, hoje, o aperto do abraço
que vinha sempre me aquecer.
Se esvaem, tranquilamente, os nossos passos.
Trilha estreita que nunca mais quero percorrer.
No meu sonho as coisas não eram tão assim.
Imaginação imunda que suja o real,
desbota o pensar e ignora por completo o fim.
Pois no tempo que passei aí por perto,
viajando por salas escuras,
mentes tão malucas,
perdido nesse seu deserto,
não vi nem sombra desse sonho meu.
Acontece que minha história vai se perdendo de mim
e mesmo que eu lute, brigue e grite
o fim vem logo, só pra resumir.
Deixei o trem passar, perdi a hora, nem fui trabalhar...
minha alma tá cansada feito eu,
então eu deixarei ela descansar.